quarta-feira, 25 de julho de 2012

Obras discriminam área mais atingida pela tragédia de 2011

Anunciadas em placas instaladas em diferentes pontos de Itaipava, as intervenções para recuperação das áreas devastadas pelo temporal em janeiro do ano passado – que vão custar mais de R$ 33 milhões ao estado, entre recuperação das margens dos rios e custo de demolição de casas condenadas – ainda não trouxeram mudanças significativas para moradores do Vale do Cuiabá – região mais castigada pelas chuvas, onde morava boa parte das 73 pessoas mortas  durante a enxurrada. Orçadas pelo Instituto Estadual do Ambiente em R$ 28,7 milhões, as obras  de “implantação de controle de inundações e recuperação ambiental dos rios Santo Antônio, Cuiabá e Carvão”, por exemplo, seguem em ritmo acelerado na confluência entre os rios Santo Antônio e Piabanha – o Centro de Itaipava, mas, até o momento, as intervenções avançaram por pouco mais de um quilômetro do Rio Santo Antônio, o que deixa desesperançosos os moradores que convivem com o aparente abandono no Vale do Cuiabá.
“Sabemos que muitas verbas foram destinadas pra cá, mas até agora muito pouco foi feito aqui no Cuiabá. O que fizeram até agora foi só resolver o problema emergencial. Fizeram a limpeza da rua e uma dragagem no rio, mas ela não resolve muito, porque muita areia que foi depositada nas margens está voltando pra dentro do rio. Agora o Inea está investindo alto, R$ 28 milhões, na recuperação do rio. Estão fazendo aquela obra enorme lá embaixo, em Itaipava, colocaram placas dizendo que os três rios serão recuperados, mas, sinceramente, eu não acredito que aquela obra vá chegar até aqui. Já perdi as esperanças”, disse Fábio Leite, que tem um bar e continua morando no Vale do Cuiabá.





Percorrendo toda a extensão da Estrada Ministro Salgado Filho, é fácil perceber o porquê da desesperança do morador. As máquinas, contratadas pelo Inea, que trabalham em grande número no centro de Itaipava, não são vistas ao longo do rio Cuiabá, que está cada vez mais assoreado por conta da quantidade de areia acumulada em imensos aterros feitos há mais de um ano. Em alguns pontos, os montes de areia – retirados na dragagem emergencial – já tem mato crescendo, uma vez que estão acumulados há vários meses. No final do Cuiabá, no rio às margens da estrada que dá acesso à localidade conhecida como Santa Rita, a quantidade de pedras trazidas pela enxurrada ainda é grande. Em alguns pontos do vale, as encostas exibem grandes clareiras, uma vez que nenhum reflorestamento foi feito na região. A pavimentação foi feita apenas até as proximidades de um haras, postes ainda estão sem iluminação pública. “Nenhuma ponte foi refeita e há muito tempo que não vemos mais nenhuma máquina trabalhando lá em cima. Nem mesmo asfalto em toda a rua principal foi colocado. Está tudo esburacado. Alguns postes até hoje não têm luz”, lembrou o presidente da Associação de Moradores do Vale do Cuiabá, José Quintella, que mora na localidade conhecida como Buraco do Sapo.
Morador da Estrada do Gentio, localidade onde dezenas de casas foram alagadas durante a chuva, o morador Cláudio Campos não acredita nem mesmo que as obras alcançarão toda a extensão do Rio Santo Antônio. “Eles estão muito preocupados em embelezar o centro de Itaipava. As máquinas poderiam estar melhor distribuídas, mas estão todas concentrada lá no centro. Há três meses, eles ficaram de apresentar o projeto para a comunidade, mas até hoje isso não foi feito. Dói muito em nós ver que daqui a pouco o período de chuvas vai chegar de novo e nada terá sido feito. O rio já está completamente assoreado, por causa dos aterros que eles fizeram lá pra cima. As máquinas poderiam vir fazendo a dragagem para dar mais profundidade não só ao Santo Antônio, mas também aos outros dois  rios, mas não fazem. Aquela obra linda que estão fazendo lá embaixo não vai adiantar nada se o restante dos rios não for cuidado. Tudo isso aconteceu há um ano e meio, e só agora eles estão fazendo esta obra. Ela está sendo feita só onde aparece para todo mundo. Eu também não acredito que essa obra milionária vá chegar ao Vale do Cuiabá”, finalizou.

Jaqueline Ribeiro
Redação Tribuna

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