segunda-feira, 30 de julho de 2012

Resultados contrastantes na recuperação do Vale do Cuiabá

Em meio à área devastada, propriedades já mostram gramados e até canteiros de flores, enquanto nas vilas mais pobres dominam as ruínas de casas./Foto: Marco Oddone.


Um ano e meio após a enxurrada que atingiu Itaipava, a região do Vale do Cuiabá se divide em duas realidades: nas grandes propriedades, o trabalho de recuperação avança, ao passo que em outros pontos vilas exibem dezenas de casas ainda em ruínas. Nas grandes propriedades, cercas foram recolocadas, imóveis foram recuperados, o rio – desassoreado – já tem as margens recompostas, e até mesmo gramados e jardins foram refeitos e começam a florir. O belo cenário delas, no entanto, contrasta com o abandono de vilas de casas ainda em ruínas, falta de asfaltamento e luz em alguns trechos da Estrada Ministro Salgado Filho e sinais de abandono por toda parte. O bairro que, segundo aAssociação de Moradores do Vale do Cuiabá tinha cerca de dois mil moradores até janeiro de 2008, hoje tem menos de 800.
“Antes dessa tragédia, eu tinha uns 60 vizinhos. Havia várias casas naquela parte ali de baixo, próxima ao haras. Esse trecho era bastante movimentado, tinha um campinho de futebol, onde as crianças brincavam, jogavam bola o dia todo. Agora isso aqui ficou silencioso. Sobraram cinco casas aqui em cima que são da nossa família. Esse lugar ficou triste. Perdemos muito vizinhos, todos eles eram nascidos e criados aqui, como eu. Muitos morreram, outros se mudaram e não sabem se poderão voltar algum dia”, contou o motorista de ônibus Jorge Valdeir que tem 48 anos e sempre viveu no Vale do Cuiabá. “Acho que só com o tempo esse vale será repovoado. Eles estão reformando os haras, por exemplo, mas se as casas não vão poder ser reconstruídas ali, como era antes, onde é que os funcionários vão morar?”, questionou.
Também nascido e criado no Vale do Cuiabá, o comerciante Fábio Leite sofre diretamente os reflexos da desocupação do Vale do Cuiabá. “Muitos moradores querem voltar pra cá, mas o problema é que eles não têm para onde voltar, porque muitas casas ainda estão destruídas, aqui no meu comércio o movimento caiu 80%. Hoje quase não compensa mais trabalhar aqui, mas o que eu posso fazer? Não tenho alternativa. Felizmente, perdemos pouca coisa aqui no bar com aquela chuva. Tenho poucas esperanças de que as coisas melhorem por aqui, mas temos que seguir em frente”, disse.
Para melhorar as condições para famílias que ainda vivem na região atingida, as associações de moradores do Boa Esperança e Vale do Cuiabá convocaram moradores e empresários para participar de um mutirão solidário que será realizado nos dias 18 e 19 do mês que vem. A iniciativa terá o apoio da Prefeitura. “Até hoje, encontramos muitas dificuldades para a reconstrução de casas, pintura, limpeza e pavimentação das nossas ruas. Por isso organizamos este mutirão. Nossa intenção é melhorar as condições do bairro, fazendo a limpeza, desobstrução e desentupimento de bueiros, conserto e pintura de bocas-de-lobo, meio-fio e postes até um metro de altura, faixa divisória de pistas, recuperação de pontos de ônibus, lixeiras e corrimão de pontes”, explicou o presidente da associação de moradores, José Quintella. “Foi muito bom saber que teremos o apoio da prefeitura”, disse.
O mutirão terá a participação de 150 escoteiros, entidades religiosas, comerciais e voluntários. A associação tem também a intenção de auxiliar na recuperação de imóveis que estão na área verde, delimitada pelo Inea. “Precisamos de materiais para fazer as melhorias, como tinta, cal, materiais de construção como pincéis, bandejas, cimento, massa, argamassa, areia, ferramentas e carrinho de mão. Precisamos também de doações de mudas de plantas nativas para que possamos começar também o reflorestamento”, explica José Quintella.
Interessados em doar materiais devem entrar em contato com o presidente da associação de moradores, José Quintellla, pelo telefone 93011338. Doações em dinheiro podem sem encaminhadas para a conta corrente da Associação de Moradores do Boa Esperança e Vale do Cuiabá - Banco do Brasil, agência 3159, conta corrente 312491-6.

Jaqueline Ribeiro
Redação Tribuna

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