quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Constante falta de luz castiga Região Serrana


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Para o morador Leonardo Strzygowsky, “Itaipava cresceu, e a rede da Ampla não acompanhou”
Foto: Leo Martins / O Globo
Para o morador Leonardo Strzygowsky, “Itaipava cresceu, e a rede da Ampla não acompanhou” Leo Martins / O Globo
RIO - Há três anos, Helena Villela recebeu de presente de Natal de sua filha pré-adolescente um caderno destinado a suas reclamações diárias à concessionária Ampla em relação à falta de luz em Itaipava, distrito de Petrópolis. Na capa, a menina desenhou uma lâmpada e, no interior, em cada uma das páginas, demarcou campos para a mãe registrar o número de protocolo, a data da ligação para a empresa, o motivo da reclamação e a resposta recebida. O caderno de 98 folhas já foi inteiramente preenchido. O problema enfrentado por moradores de Itaipava, Araras, Pedro do Rio, Nogueira e Secretário ganha luz nas redes sociais: basta o tempo fechar na Região Serrana para começar uma chuva de postagens com queixas da falta de energia. Depois da eletricidade, cai o sinal de telefone fixo e celular, assim como a internet, e, para finalizar, acaba a água, já que as bombas não funcionam. Alguns empresários já travam batalhas judiciais com a Ampla, concessionária responsável pelo fornecimento na área, enquanto moradores reclamam da falta de efeito das queixas enviadas à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
— Minha filha, que já nasceu aqui, começa a tirar tudo da tomada assim que ouve um raio, num impulso. Quando era bem pequena, fez isso na casa de meu pai, em Copacabana. Tive que explicar para ela que não era necessário — conta.
Ela se mudou há 15 anos do Rio para o Vale de Bonsucesso. Nas 12 ruas da área próxima à BR-040 (Rio-Petrópolis) estão distribuídas 110 casas. Destas, 23 já têm gerador capaz de abastecer toda a residência em caso de falta de luz. E os proprietários garantem: foi o melhor investimento que fizeram. Helena explica ainda que as antenas das empresas de celular e o equipamentos da Embratel de telefonia fixa têm baterias com autonomia de cerca de quatro horas. Após esse período, se a energia não volta, as comunicações são interrompidas.
— Um problema da região de Itaipava é que a fiação de alta tensão é toda desencapada. Basta o balançar de um galho fazer um fio encostar em outro para provocar um curto e toda a energia cair. Não precisa chover nem ventar para ficarmos às escuras. O problema é diário — relata Helena.
Este ano, R$ 50 milhões
Superintendente de Manutenção e Obras da Ampla, Fabio Fonseca afirma que o tronco principal de fornecimento já é semi-isolado e que o restante da rede passará por esse processo ao longo de 2014. Estão previstos investimentos de R$ 50 milhões na região.
Há ainda a dificuldade de se comunicar com a Ampla. Na semana do réveillon, quando a localidade de Secretário, muito procurada por turistas, chegou a ficar por 92 horas ininterruptas sem energia, moradores ficaram até 40 minutos ao telefone aguardando o atendimento do SAC.
— Com a chuva, uma árvore caiu sobre a fiação, e eles levaram três dias para mandar alguém consertar. O fio caiu dentro do terreno do meu filho, oferecendo risco aos meus netos. Menos de 24 horas depois do conserto, a energia caiu de novo. Ao todo, foram cinco dias às escuras — relata Ieda Marchiori Paixão, que perdeu todas as insulinas que armazenava na geladeira.
Já Mario Augusto Furtado, dono de uma padaria, perdeu todos os produtos que precisavam de refrigeração. Em todo o período sem energia, Luiz Henrique Roque Ferreira, morador da região, acumulou 14 números de protocolo:
— É muito raro vir alguém da Ampla fazer poda das árvores, que, quando caem, não são retiradas. Dessa vez, foram os próprios moradores que cortaram e retiraram a planta da fiação, e os restos continuam lá.
Nem mesmo a Estrada União e Indústria, via que corta todo o distrito, escapa dos apagões. Leonardo Strzygowski conta que o bistrô de sua esposa com frequência recorre às velas para garantir iluminação aos clientes:
— Isso até dá um ar de romantismo ao ambiente. O prejuízo ocorre mesmo na cozinha, onde perdemos alimentos com a falta de refrigeração. Itaipava cresceu, e a rede da Ampla não acompanhou.
Sem posto de atendimento
Leonardo se queixa também do fechamento do posto de atendimento da Ampla que existia em Itaipava. Agora, para conversar pessoalmente com a empresa, só indo ao Centro de Petrópolis.
A Ampla explica que decidiu concentrar o atendimento num único lugar e aumentar o número de atendentes lá. Segundo Fonseca, a aposta é no atendimento por internet e telefone. Para Leonardo, não é o ideal, porque nesses canais ele costuma ser ouvido por funcionários de outro município, que desconhecem a realidade de Petrópolis.
A Aneel afirmou que vem recebendo muitas queixas em relação à demora no atendimento da Ampla e que planeja realizar uma grande fiscalização nos serviços da empresa neste semestre.
O deputado federal Fernando Jordão (PMDB-RJ) entregou ontem pela manhã à Aneel um ofício com pedido de caducidade dos contratos de concessão da Light e da Ampla, por causa das recentes falhas no fornecimento de energia aos 92 municípios do Rio onde atuam. As duas empresas não quiseram comentar o assunto.




















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