Insatisfeitos com o resultados das ações adotadas pelo poder público, quase 10 meses após a tragédia que deixou um rastro de destruição em algumas localidades na região de Itaipava, moradores de áreas atingidas pelas chuvas de 12 de janeiro se reuniram em uma manifestação na tarde de ontem para cobrar soluções para as famílias que ainda vivem uma situação de indefinição quanto aos seus destinos. Com faixas, cartazes e nariz de palhaço, cerca de 150 moradores se reuniram em frente ao Fórum da Avenida Barão do Rio Branco, onde uma audiência judicial reuniu representantes do município, do estado e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
O grupo de moradores das localidades Vale do Ciuiabá, Benfica, Madame Machado e Estrada do Gentio lotou três ônibus. Eles cobravam medidas em relação a moradias, dragagem dos rios e informações sobre os critérios que vem sendo adotados pelo Inea na delimitação da área de exclusão, e providências quanto ao valor das indenizações pelas casas que vêm sendo oferecidas pelo estado, que estão muito abaixo do preço de mercado.
“Estamos reunidos aqui hoje, pois a audiência na 4ª Vara Cível vai tratar da situação dos moradores que estão na chamada área de exclusão delimitada pelo Inea. Essa audiência é fruto de uma ação movida pela Defensoria Pública desde o início do ano para impedir que as casas sejam demolidas antes que os moradores tenham novas moradias. Na época em que a demolição foi anunciada, a Defensoria conseguiu uma liminar impedindo que ela acontecesse, mas ainda existem muitas questões que preocupam os moradores. A comunidade se reuniu aqui hoje para deixar claro para as autoridades que não aguentamos mais esperar. Precisamos de soluções”, explica o presidente da Associação de Moradores do Vale do Cuiabá, José Quintella.
A iniciativa intitulada Movimento 12 de Janeiro – Itaipava - SOS Vale do Cuiabá recebeu o apoio de empresários da região, que teriam doado transporte e lanche para os moradores. “A maior dificuldade que enfrentamos hoje na região de Madame Machado é a falta de dragagem no Rio Santo Antônio. Em setembro, em uma das reuniões da Frente Pró Petrópolis, a presidente do Inea (Marilene Ramos) disse que a dragagem começaria imediatamente, mas isso começou a ser feito mais de um mês depois e constantemente a máquina está parada. Essa situação nos preocupa muito, pois na chuva que teve no mês passado o rio subiu dois metros com apenas 40 minutos de chuva. As pessoas estão muito assustadas com isso. Sou membro da pastoral da caridade e observamos que muitas famílias estão procurando ajuda na igreja, querendo saber se podem se abrigar lá, com medo das chuvas de verão”, explica o morador Fábio Júnior.
Fábio lembra que uma alternativa de abrigo poderia ser o Centro Comunitário do Madame Machado. “A iniciativa privada chegou a se mobilizar para fazer a reforma, um engenheiro doou o projeto, mas a Prefeitura disse que faria a obra, pois o prédio é público. Só que a reforma ainda não aconteceu. Se estivesse reformado, o Centro Comunitário poderia abrigar umas 20 famílias”, disse o morador.
Entre os moradores que esperam por uma solução estão Enir Cabral de Oliveira, de 76 anos, e Sebastião Nazareth de Oliveira, 80, que apesar da idade avançada participam ativamente de reuniões e encontros para reivindicar soluções. No dia da enxurrada, Enir escapou da morte porque minutos antes de sua casa desabar atravessou engatinhando uma ponte improvisada com uma escada até a varanda de um vizinho. “Nossa casa, que foi construída ao longo de uma vida inteira, foi levada naquela noite. Só restaram algumas fotos que meu neto havia guardado. Estamos no aluguel social e hoje vivemos com a renda de um salário mínimo da pensão do meu marido. Ainda não fomos chamados por ninguém do Inea. Não sei como vai ser daqui pra frente, como vamos poder reconstruir nossa vida. Com essa idade, como vamos começar a construir outra casa?”, questiona Enir.
Manifestantes foram recebidos pelo prefeito e por vereadores
Ao sair do Fórum, manifestantes seguiram de ônibus até a sede da Prefeitura, na Avenida Koeler, para cobrar providências junto ao prefeito Paulo Mustrangi. Ainda com faixas e cartazes, mais de 70 manifestantes tomaram os jardins da Prefeitura. Eles esperaram pela chegada do prefeito, que estava em uma reunião com moradores do Duques, no Quitandinha, e retornou à prefeitura para atender aos manifestantes que o aguardavam sentados nas escadaria do palácio Sérgio Fadel. Cerca de uma hora após a chegada do grupo, uma comissão de oito moradores foi recebida pelo prefeito Paulo Mustrangi e por secretários de governo. Depois de ouvir as reivindicações dos moradores, Mustrangi afirmou que desde o primeiro momento todas as providências vêm sendo tomadas pelo município para resolver a situação dos atingidos.
“Estivemos presentes desde o primeiro momento. Estamos trabalhando de forma transparente e com muita seriedade em relação a essa questão do Vale do Cuiabá. Admitimos que a prefeitura não tem recursos para fazer tudo o que gostaríamos de fazer, mas estamos buscando isso junto ao estado e ao governo federal, principalmente no que se refere à questão da habitação. A construção das moradias é nossa prioridade. Temos o compromisso do governo federal, os recursos estão disponíveis na Caixa Econômica, mas os trâmites burocráticos precisam ser seguidos. Conseguimos os terrenos, estudos de sondagem de solo foram feitos e estamos na etapa das licitações. A prefeitura tem limites técnicos e financeiros, não temos como custear toda a reconstrução, mas os moradores podem estar certos de que estamos buscando incessantemente tudo isso junto ao estado e ao governo federal”, disse o prefeito Paulo Mustrangi.
Além de reclamações sobre o valor das indenizações que estão sendo propostas pelo Inea, moradores questionaram o prefeito sobre uma possível disponibilização de recursos públicos para auxiliar na reforma de casas atingidas que estão fora da chamada área de exclusão do Inea. “A prefeitura recebeu recursos de doações que poderão ser disponibilizadas pra isso, mas é preciso que se cumpram as medidas legais para que a prefeitura possa liberar esses recursos. Já designamos à Secretaria de Habitação que procure a Fumpec para que seja feito todo o processo de liberação legal desses recursos”, afirmou o prefeito.
“Precisamos de uma solução. O que está acontecendo no Vale do Cuiabá é uma vergonha. As autoridades deveriam ter mais carinho pelos moradores, não aguentamos mais esta situação” desabafou o morador do Vale do Cuiabá Luiz Matheus Rodrigues.
Ao fim do encontro com o prefeito, ficou acertado que uma nova reunião será realizada na sexta-feira, às 9h30, na sede da subprefeitura, em Itaipava, para que moradores possam discutir com autoridades municipais as medidas que precisam ser adotadas.
Após a reunião com o prefeito, manifestantes seguiram até a Câmara Municipal, onde foram recebidos por uma comissão de vereadores.
JAQUELINE RIBEIRO
Redação Tribuna
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
ítimas do temporal em 12 de janeiro cobram soluções das autoridades
de Benfica e de Madame Machado protestaram
em frente ao Fórum, na Barão do Rio Branco.
/ Alexandre Carius
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