sábado, 12 de janeiro de 2013

Dois anos após tragédia das chuvas, mais de 100 mil moradores ainda vivem em áreas de risco na serra do Rio

Mapeamentos apontam que 28.150 casas estão "à beira" do perigo em sete cidades

Dois anos após a tragédia das chuvas, que deixou 918 mortos e centenas de desaparecidos na região serrana do Rio, mais de 100 mil moradores das sete cidades arrasadas pelas enxurradas ainda vivem sob a ameaça de um novo desastre. Os mapeamentos das áreas de risco, realizados pelo DRM (Departamento de Recursos Minerais), Inea (Instituto Estadual do Ambiente), prefeituras e defesas civis apontam que 28.150 casas estão "à beira" do perigo em Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Bom Jardim, São José do Vale do Rio Preto, Sumidouro e Areal. Veja abaixo mapa das áreas de risco nas cidades serranas.Até hoje, os municípios ainda não se recuperaram por inteiro. Em todas as partes, há marcas do maior pesadelo já enfrentado pela serra fluminense, que completa dois anos nesta sexta-feira (11). Somente em Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis, as chuvas podem levar abaixo as encostas em mais de 200 pontos de deslizamentos em cada município.

Na avaliação do Crea-RJ (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio), 170 encostas foram classificadas como de altíssimo risco de deslizamento em toda a região serrana. O governo do Estado, no entanto, concluiu as obras de contenção em apenas 45 morros de Nova Friburgo e Teresópolis.

Segundo o secretário estadual de Obras, Hudson Braga, os investimentos dos governos federal e estadual em contenção de encostas (concluídas e em andamento) somam mais de R$ 400 milhões nas sete cidades. Ele admite que ainda há "muito trabalho pela frente nos próximos anos". Desde a tragédia, o Estado informa ter gasto R$ 2,3 bilhões em recuperação de rodovias e pontes, dragagem de rios e construção de casas.

Mais de 60 mil em risco em Nova Friburgo e Teresópolis

 O número de moradores que vivem em risco já passa de 60 mil em Nova Friburgo e Teresópolis, as cidades mais destruídas pela tempestade de 2011. Considerados de alto risco pela Prefeitura de Nova Friburgo, os bairros Três Irmãos, Alto Floresta, Granja do Céu, Vilage, Rui Sanglard, Jardinlândia e Tingly ainda estão à espera das obras de contenção de encostas.

Lá, a ameaça de deslizamentos bate à porta dos moradores até mesmo em dias de chuvas fracas. Segundo o governo do Estado, 35 sirenes de alerta foram instaladas em Nova Friburgo a fim de minimizar as consequências do mau tempo. Segundo o secretário municipal de Defesa Civil do município, coronel João Paulo Mori, as famílias que vivem em áreas de altíssimo risco estão sendo removidas para evitar novas tragédias.

— Nós sabemos que há casos de moradores que estão voltando para áreas consideradas de altíssimo risco. Mas estamos monitorando isso. Chegamos a demolir 75 casas de modo compulsório, com autorização da Justiça, para preservar a vida das pessoas. Além disso, as concessionárias de água e energia elétrica foram orientadas a não fornecer esses serviços nas áreas em que não há chance alguma de viver lá.

Em Teresópolis, onde mais de 400 pessoas morreram sob os escombros da tragédia, as obras de contenção chegaram a apenas em 17 encostas. O município também ganhou 23 sirenes de alerta, que são ofuscadas pelo cenário de destruição, como casas em ruínas e ruas empoeiradas.

Arrasado pelas chuvas, Vale do Cuiabá espera sirenes de alerta

No seu PLHIS (Plano Local de Habitação de Interesse Social), divulgado em novembro passado, a Prefeitura de Petrópolis admite que 12.168 casas estão ameaçadas por deslizamentos de terra no município. Além disso, segundo o Inea, cerca de 600 casas podem ser levadas pela fúria das águas em caso de violentas inundações dos rios Piabanha e Santo Antônio.

O Vale do Cuiabá, no distrito de Itaipava, está no caminho do rio Santo Antônio, que, em 2011, transbordou e matou 74 pessoas. Apesar do risco de novas enchentes, o bairro não recebeu nenhuma das 18 sirenes de alertas instaladas em Petrópolis. De acordo com a associação de moradores do lugar, mais de 200 famílias deixaram o lugar, que, antes do desastre, tinha aproximadamente 3.000 habitantes.

Localizado na área rural de Petrópolis, o Vale do Cuiabá era conhecido pela produção de hortaliças e criação de cavalos. Coberto pela poeira e cercado de escombros, o lugar ganhou ares de “deserto” desde janeiro de 2011. O cenário de devastação e o medo de novas catástrofes afastaram a família do agricultor Lair Carneiro, de 62 anos.

— Eu vivia no Vale do Cuiabá desde que nasci. É muito difícil abrir a janela de casa e ver que as plantações já não existem mais. Eu e minha esposa não queremos passar por tudo aquilo de novo.

Prefeituras não pedem sirenes em três municípios

De acordo com a Defesa Civil do Estado, o projeto de instalação das sirenes no Vale do Cuiabá existe. A 56 km do vale, o pequeno município de São José do Vale do Rio Preto também não recebeu nenhuma sirene de alerta para novas enxurradas. De acordo com o levantamento do DRM, 69 encostas ameaçam desabar sobre 978 moradores. No entanto, segundo o secretário municipal de Planejamento e Gestão, Marco Corabi, a cidade não deve sentir os efeitos de outro desastre.

— O município não tem histórico de grandes tragédias. O que aconteceu aqui [São José do Vale do Rio Preto], em 2011, é que nós recebemos as águas dos rios de Nova Friburgo e Teresópolis, o que elevou o nível do Rio Preto e atingiu as casas que foram construídas irregularmente nas suas margens. Aqui acontece um caso ou outro depois de 2011. Não há necessidade de instalação de sirenes de alerta.

Os municípios de Areal e Sumidouro, que também foram atingidos pela tragédia das chuvas, não contam com sistemas de alerta. O DRM mapeou 142 áreas de deslizamentos nas duas cidades, o que põe mais de 2.000 moradores em risco. Apesar disso, as defesas civis municipais não pediram a instalação das sirenes nesses locais.

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