A rotina dos atrasos nas linhas de ônibus no município está deixando os petropolitanos com os nervos à flor da pele. Sair de casa com duas horas e meia de antecedência já não é mais suficiente para garantir que o trabalhador chegará ao serviço no horário determinado. Ontem de manhã, por exemplo, o caos tomou conta do terminal de Itaipava. Quem chegou ao local às 7h30, com destino ao Centro, encontrou filas extensas e muitas pessoas tiveram que desembolsar R$ 4 para pagar um ônibus executivo. Este foi o caso de Rosinéia Moreira, que, apesar de ter saído de casa às 6h30, só conseguiu chegar no trabalho, no Centro, às 9h15. Segundo ela, dentro do terminal as filas estavam dando voltas e a falta de informação foi o que mais a deixou indignada. “O pior é que essa situação se tornou uma constante. Hoje (ontem) se agravou mais, mas todos os dias vivemos problemas parecidos”, reclamou. Moradora em Pedro do Rio, mesmo enfrentando os atrasos que já se tornaram comuns, normalmente chega ao centro da cidade entre 8h15 e 8h20. Rosinéia explica que, em média, leva pouco mais de uma hora e meia para chegar no trabalho, mas ontem perdeu duas horas e quarenta e cinco minutos. “E só consegui ir para o trabalho porque peguei um ônibus executivo, cuja passagem custa R$ 4. Estamos sendo desrespeitados diariamente e ninguém faz nada”, complementa a moça.Outra prejudicada foi Elizabeth Aparecida. Moradora em Corrêas, ela conta que já está saindo de casa mais cedo há algum tempo. Ontem, quando chegou no ponto, na Estrada União e Indústria, pouco depois das 8h, logo percebeu que havia algo de errado. Dezenas de pessoas estavam aglomeradas e irritadas devido ao tempo que já haviam perdido no local. “Minutos depois, surgiram dois ônibus, mas foi impossível embarcar num deles porque estavam superlotados. Parecia que as pessoas estavam penduradas nas portas e janelas, o que considero uma grande falta de respeito”, disse, lembrando que nenhuma das pessoas que estavam com ela no ponto conseguiu embarcar. Conforme Elizabeth, enquanto estava na expectativa de surgir um outro coletivo, recebeu a ligação de uma amiga que estava no terminal de Itaipava. “Trabalhamos no mesmo lugar e ela me avisou para embarcar no primeiro que aparecesse porque havia poucos ônibus e que meu atraso no trabalho poderia ser ainda maior”, contou. Atendendo a sugestão da amiga, ela também optou por um ônibus executivo e, mesmo pagando a tarifa de R$ 4, viajou sem conforto algum porque o veículo também estava lotado. “Viajei em pé de Corrêas até ao Centro. Sem contar que não tinha espaço para nada, nem mesmo para as pessoas se segurarem. Tenho saído de casa mais cedo para ver se não me atraso no trabalho, mas, mesmo assim, não está adiantando. Hoje (ontem), entrei na empresa às 9h15, o que deveria ter acontecido antes das 9h”, disse, salientando que, normalmente, chega entre às 8h45 e 8h50. A doméstica diarista Ana da Conceição tem a mesma reclamação e acrescenta: “Nos tratam como lixo. Tive que viajar espremida num ônibus, sem o menor conforto. As pessoas já chegam estressadas nos empregos, até porque, para muitos patrões, a história de ônibus quebrado ou atrasado parece desculpa esfarrapada”, disse, acrescentando que por conta do problema, não conseguiu chegar a tempo na casa da cliente que atenderia ontem.
Autobus diz que opera normalmente Questionado, o Setranspetro esclareceu ontem que a Autobus continua realizando a operação com a quantidade máxima de veículos nas linhas 700 e 740 – Terminal Itaipava. Neste sentido, o sindicato informa que na manhã dessa quarta-feira os atrasos nas saídas dos ônibus do Terminal Itaipava foram gerados porque grande parte dos coletivos que retornavam para o distrito ficou retida em um engarrafamento que se formou na Rua Floriano Peixoto, no Centro, porque um poste caiu. Os veículos que estavam realizando o itinerário habitual ficaram parados por cerca de 30 minutos. Por volta das 8h, a Autobus e as demais empresas que passam pela Rua Floriano Peixoto, para seguir viagem para os bairros e distritos, foram informadas que deveriam mudar o itinerário para sair do Centro. Através de nota, o Setranspetro ressaltou também que “nas últimas semanas, alguns veículos das linhas 600 e 640 - Terminal Corrêas, da Viação Petrópolis, deixaram de realizar a operação para passar por um programa de manutenção rigoroso, para que possam retomar a operação de forma mais regular e segura, apresentando menos problemas mecânicos. Dessa forma, as linhas 700 e 740 – Terminal Itaipava, da Autobus, apesar de receberem reforços no número de veículos, sofreram um grande aumento no número de usuários, o que, conseqüentemente, sobrecarregou a operação da Autobus, que só para realizar o embarque e desembarque dos usuários dentro do Terminal Corrêas, cada veículo chega a ficar parado por mais de 10 minutos. O Setranspetro destaca que a Viação Petrópolis continua dando andamento na manutenção dos coletivos que atendem às linhas 600 e 640 - Terminal Corrêas e informa que existe a previsão da situação ser totalmente regularizada dentro de uma semana. Mais uma vez, o Setranspetro vem a público destacar que a Autobus programa saídas a cada quatro minutos do Terminal Itaipava nos horários de pico, mas os engarrafamentos e retenções têm interferido significativamente no cumprimento dos horários das viagens, pois esses ocorrem nos horários de pico, tanto na parte da manhã quanto à tarde e em vários pontos ao longo de toda a Estrada União e Indústria, Retiro e Centro. Provocados pelo grande número de veículos se deslocando ao mesmo tempo, pelo excesso de redutores de velocidade, pela falta de conservação de algumas vias, por estacionamentos e manobras irregulares e por acidentes de trânsito, os engarrafamentos provocam retenções, aumentam o tempo da viagem e impede que as linhas cumpram seus horários. Diariamente, cada ônibus que realiza viagens nas linhas 700 e 740 – Terminal Itaipava tem levado mais de 1h 20 minutos para realizar uma viagem, ao contrário dos 50 minutos que são previstos”. Em relação à falta de ônibus e linhas para atender os trabalhadores noturnos de Itaipava e arredores, o Setranspetro informou que depende da CPTrans fazer a análise da necessidade e autorizar a criação e/ou expandir as linhas existentes ou ainda ampliar e/ou alterar horários. O Setranspetro orienta aos empresários a encaminhar as solicitações ao órgão.
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Situação piorou depois de audiência na Câmara
ROGÉRIO TOSTA Redação Tribuna
O caos no transporte público na cidade preocupa o vereador Marcelo Motorista, líder do PDT, pois na sua opinião são os rodoviários e a população os únicos prejudicados. “Tenho recebido relato de motoristas sobre o atraso no pagamento dos salários e de trabalhadores que diariamente chegam atrasados nas empresas. Se o Poder Público e as empresas não apresentarem uma solução, todo o sistema de transporte público vai ficar insustentável”. Na avaliação do vereador, a situação piorou muito desde a audiência pública sobre o transporte, promovida pela Câmara, através da Comissão de Transportes e Trânsito. Por causa desta situação, Marcelo Motorista vai pedir aos membros da comissão – vereadores Jorginho do Banerj (presidente), Wagner Silva (vice-presidente) e Samir Yarak – que realizem nova audiência para discutir o problema. Para ele, depois da audiência, a Comissão não se manifestou mais sobre a crise no transporte, mesmo reconhecendo que os vereadores em determinados momentos falaram sobre os problemas. O líder do PDT cobrou também da Prefeitura um posicionamento mais claro e objetivo, pois na sua opinião pouco foi realizado para melhorar o transporte após a abertura do terminal do Centro. O vereador Marcelo Motorista não vê com bons olhos a intenção de determinados grupos da cidade, que querem licitação para contratação de novas empresas de ônibus. “Esta é um solução que pode ainda não resolver o problema do transporte público em Petrópolis, pois hoje, além da passagem cara, temos um sistema complicado, com um trânsito que a cada dia tem congestionamentos, com veículos a meu ver impróprios para topografia da cidade”, comentou o vereador. Para o líder do PDT, antes de abrir uma licitação para contratação de novas empresas, é preciso definir uma política de transporte público que leve em conta o acesso às comunidades e que não se pode abrir novas ruas em Petrópolis. Aproveitando sua experiência como motorista, o vereador disse que é preciso definir o tipo de veículo que atenda às necessidades da população mas que contribua com a qualidade do meio ambiente, reduzindo a emissão de gás. “Os veículos com roleta na frente causam grande transtorno aos passageiros, pois vão sempre contra o movimento do carro. Isto ocorre porque a maioria das ruas em Petrópolis é subida e não plana, que a meu ver tem as condições ideais para este tipo de carro”. Para Marcelo Motorista, a situação dos rodoviários (motoristas, cobradores, mecânicos e outros) também deve ser incluída numa política de transporte, “pois eles estão sofrendo pressão com horários apertados e salários atrasados”. O vereador disse que todo mês ouve de motoristas e cobradores reclamações dos salários e cestas básicas atrasadas. Na opinião dele, cabe ao Sindicato dos Rodoviários olhar estas questões e cobrar dos empresários melhores condições de trabalho. O líder do PDT lembrou que este mês é o período do dissídio da categoria. “Acredito que cada empresa poderia dialogar mais com seus funcionários. Colocá-los a par da situação, das dificuldades, e juntos, com um diálogo franco, buscar uma solução. O que não pode é os trabalhadores serem pressionados a cumprir horário e depois receberem seus salários atrasados. Todos têm contas para pagar e ninguém trabalha direito sabendo que não terá dinheiro para alimentar as famílias e pagar as contas”.
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Economia sofre prejuízos com má qualidade do transporte público
JUSSARA MADEIRA Redação Tribuna
A má prestação do serviço de transporte público em Petrópolis vem afetando diretamente a economia e o turismo em Itaipava e arredores, porque os trabalhadores que utilizam as linhas que ligam o Centro aos distritos estão encontrando dificuldades de chegar dentro do horário previsto nas pousadas, restaurantes e diversas outras empresas situadas na região. O pior é que o problema acaba atingindo diretamente o turista. Todos os dias, a coordenadora de eventos Gilda de Barros Daniel, moradora do Alto da Serra, busca alternativas para chegar na hora certa na empresa em que trabalha em Itaipava. Ela relata que não encontra problemas no trajeto entre o bairro e o Centro, mas já esperou por até uma hora e 15 minutos no ponto do ônibus da linha 700, da Autobus, na Rua Paulo Barbosa. Na quarta-feira da semana passada, por exemplo, ela chegou no ponto às 7h45 e só teve ônibus às 8h20. “O fiscal falou que o atraso tinha sido ocasionado porque houve uma batida de carro na estrada, mas não era verdade, porque o ônibus executivo chegou dentro do seu horário, sendo que faz o mesmo trajeto do outro coletivo”, contou. Para evitar chegar sempre atrasada,Gilda está utilizando a linha executiva da empresa e completando a tarifa com dinheiro do próprio bolso. “O problema é que a maioria dos trabalhadores não tem condições de pagar esta diferença”, ressaltou. A coordenadora de evento não encontra dificuldades somente para chegar ao trabalho. O retorno para casa, ao final de um dia inteiro de trabalho, também é uma luta diária. Gilda encerra o expediente às 18h e relatou que, na grande maioria das vezes, fica no ponto por vários minutos, à espera de um coletivo em direção a Petrópolis. “Tem dias que só consigo chegar em casa às 20h30. Ou seja, gasto o mesmo tempo que gastaria se trabalhasse no Rio de Janeiro”, concluiu. Gilda também critica as péssimas condições dos coletivos da linha 700, que quebram durante o trajeto, e a falta de higienização adequada. “Os ônibus estão cheios de baratas”, ressaltou. A mudança do sistema de integração também é alvo de críticas. “A integração deixou de existir. O coletivo da linha 740 raramente passa. Tenho sorte da empresa em que trabalho ter se sensibilizado com a situação e estar me dando quatro passagens por dia, ao invés de duas”, ressaltou. E reclamar, segundo Gilda, não adianta. “Há alguns tempo, mandei um e-mail para a CPTrans reclamando do corte de horários e da situação dos ônibus, mas até hoje não recebi nenhuma resposta”, contou.
Turismo prejudicado Dos 16 funcionários da Pousada Arcádia, localizada no centro de Itaipava, 10 moram no primeiro distrito e utilizam o transporte público. Os problemas com os atrasos têm sido frequentes ultimamente, relatou o gerente Luciano Faria. Principalmente nos feriados, apontou, quando o número de coletivos que circulam é reduzido pela empresa. O problema acaba afetando diretamente a qualidade do serviço oferecido aos hóspedes. Na última terça-feira, por exemplo, dia 16 de março, feriado do aniversário de Petrópolis, o café da manhã foi servido com 25 minutos de atraso porque a funcionária responsável pelo serviço não conseguiu chegar no horário previsto. Havia 14 hóspedes na pousada. O gerente conta que foi obrigado a contar com a compreensão deles, “mas alguns reclamaram, e com razão. Os hóspedes não têm nada a ver com isso e querem o serviço pelo qual pagaram. É uma situação muita chata, porque tentamos evitar levar problemas a quem está hospedado”, disse.
Faltam “corujões” A vida noturna de Petrópolis ficou praticamente restrita aos distritos, onde há grande concentração de bares, restaurantes e boates. Estas empresas, que atendem aos turistas e aos próprios petropolitanos, oferecendo lazer, empregam centenas de funcionários, mas quem trabalha no turno da noite nestes estabelecimentos também é vítima da má prestação do serviço do transporte público. São poucas as linhas que atuam na madrugada, e o problema se agrava nos finais de semana, quando o número de coletivos é reduzido. Segundo o empresário e presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, Luiz Fernando Velloso, os empregados ficam sem condições de ir para casa e, muitas vezes, os patrões, que obrigatoriamente pagam o vale-transporte, se vêem na condição de fazer a função do transporte público e usar seus veículos para levar os funcionários para casa após o expediente. “Temos casos de funcionários que saem do trabalho à uma hora da madrugada e só conseguem chegar em casa às quatro ou cinco horas da manhã.
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Estudantes têm problemas nas escolas por causa de atrasos
JANAINA DO CARMO Redação Tribuna
Os constantes atrasos dos ônibus que fazem a linha Roccio, da Viação Esperança, estão prejudicando estudantes do Colégio Liceu Municipal Prefeito Cordolino Ambrósio. De acordo com as normas da escola, os alunos que chegam depois do horário recebem advertência e após a terceira comunicação fica impedido de entrar na escola. Geralda Silva de Oliveira, mãe de uma aluna do sétimo ano, está indignada. “Minha filha já recebeu advertências e a culpa não é dela, simplesmente não tem ônibus no horário certo e ela acaba chegando atrasada”, protestou. Geralda conta que o primeiro horário do ônibus que faz a linha do bairro sai às 05h50, mas ultimamente o coletivo tem tido atrasos superiores a 30 minutos. De acordo com a mãe da estudante, o ônibus tem saído do bairro por volta das 06h30. “A minha filha tem que chegar no colégio até 07h15, mas nos últimos dias ela vem chegando depois das 07h20. Não sei o que fazer se ela não puder entrar no colégio, eu trabalho e não tenho como levá-la”, disse. Além das advertências, a menor tem perdido matérias importantes e a preocupação da mãe é com o início da provas. Geralda conta que o inspetor do colégio entende a situação da aluna e que outros estudantes estão passando pelo mesmo problema. “Eles não têm como identificar quem realmente está atrasado por causa do ônibus e aquele que fica na rua, por isso todos estão recebendo as advertências. Vou procurar a empresa e explicar o que está acontecendo, eles vão ter que dar um jeito”, concluiu.
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