sábado, 16 de julho de 2011

Famílias vivem drama em área devastada









A dona de casa Clenilda Pinto reformou a casa, invadida pela água, após a tragédia.
Agora, teme não receber um valor junto
como indenização. / Anderson França



Os moradores das regiões fortemente atingidas pelas chuvas de janeiro e que estão incluídos na Faixa Marginal de Exclusão, apresentada na última quinta-feira pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), estão desolados e cheios de incertezas. Alguns não querem deixar seus lares e temem pelo futuro. É o caso do aposentado Joaquim José da Rocha, de 81 anos. Morador da localidade conhecida como Buraco do Sapo, no Vale do Cuiabá, seu residência foi incluída no área de exclusão e terá que ser demolida. “Não quero deixar minha casa. Ela está de pé, sem rachaduras. Não é justo me tirarem daqui. Eu quero passar o resto da minha vida aqui, na minha casinha. É só o que eu quero”, frisou.
Joaquim mora no Buraco do Sapo há 13 anos, junto com a esposa – que é deficiente visual – Juraci Araújo da Rocha, de 72 anos, e o filho. A residência está a menos de 30 metros do leito do rio, o que, de acordo com o estudo do Inea, é considerado como de alto risco de inundação. Durante a enxurrada, a moradia de dois andares foi invadida pelas águas do rio. As marcas da enchente, que chegaram a quase quatro metros de altura, ainda estão na parte exterior da casa.
Para sobreviver, a família ficou por seis horas em cima de uma mesa, com água pela cintura. “Fiquei tão nervosa que tive paralisia facial. Foi a pior noite da minha vida”, relatou Juraci. Apesar dos traumas e das sequelas, o casal não quer deixar a residência. “Essa é a herança do meu marido para mim. Não vamos sair daqui. Aqui é nosso lar, não podemos ir embora”, frisou Juraci.
Além da casa do seu Joaquim, outras 14 moradias no Buraco do Sapo serão demolidas. O comerciante Laírton Teixeira também não poderá ficar no local. Sua residência, que está a menos de 30 metros do rio, foi incluída na área de exclusão. “Eu já esperava por isso. O problema agora é como serão as indenizações. Minha casa vale quase R$ 150 mil. Será que vou receber todo esse valor? Esse é o maior problema. Muitas pessoas têm casas bem estruturadas. Como vai ser?”, questionou.
Os valores da indenização também preocupam a dona de casa Clenilda Correa Pinto, de 58 anos. Sua moradia fica na Estrada Ministro Salgado Filho, na localidade conhecida como Vila de Casas. Na área, todas as casas foram incluídas na faixa de exclusão. São ao todo 29. “Sei que moro praticamente dentro do rio, mas e agora? Eu reformei toda a casa, pintei tudo, troquei as portas que ficaram destruídas, comprei móveis. Como vai ser? Vão me indenizar? Vão me dar uma casa, do tamanho e do valor da minha?”, ressaltou.
Para o presidente da associação dos moradores, José Quintella, é importante esclarecer as dúvidas dos moradores antes de qualquer ação por parte do poder público. “Anunciaram uma área de exclusão, mas ainda não definiram nada. Existem incertezas, dúvidas, questionamentos. É preciso sentar e conversar com cada morador”, frisou. José reside no Buraco do Sapo e teve sua moradia incluída na faixa de médio risco, onde o morador poderá permanecer no local. “Minha casa não será demolida, mas disseram que há riscos, embora menores, de ser novamente atingida. Muitas outras estão na mesma situação, mas a questão é: e o medo de correr novos riscos? Como ficar em uma casa onde não há garantias de que o horror que vivemos não irá se repetir?”, perguntou José.



Ao todo, 340 edificações serão demolidas na região

A partir desta segunda-feira, técnicos da Prefeitura e da Casa Civil do governo do estado estarão visitando as famílias que tiveram as residências incluídas na faixa marginal de exclusão. De acordo com o estudo apresentado pelo Inea, 340 edificações foram incluídas nas áreas de alto risco de inundação no Vale do Cuiabá e nos rios Carvão e Santo Antônio.
De acordo com o coordenador do Comitê de Ações Emergenciais, Luiz Eduardo Peixoto, os moradores serão visitados individualmente. Serão repassados dados sobre o estudo e as medidas que poderão ser adotadas a partir de agora. “Sabemos que as pessoas têm muitas dúvidas e por isso as visitas individuais serão importantes. Vamos explicar o que pode ser feito, quais são as opções e medidas que iremos adotar. Daremos início a uma nova fase”, ressaltou Peixoto.
Os moradores que tiveram suas casas incluídas na faixa de exclusão terão três opções: compra assistida – quando o governo estadual acompanha e auxilia uma família a comprar um imóvel em qualquer lugar do estado do Rio de Janeiro; a indenização simples, com a restituição do valor do imóvel, que passa por avaliação prévia; e o cadastro para que a pessoa seja contemplada com uma das 1,5 mil unidades habitacionais que serão construídas no município. No local onde as casas serão demolidas a intenção é criar áreas de lazer e esporte. As áreas serão reflorestadas com espécies nativas da Mata Atlântica. O Inea também conta com um projeto de implantação de parques fluviais.
Além das famílias que vivem nas moradias situadas nas áreas de exclusão, serão cadastradas as que residem em outras 103 edificações que foram consideradas como situadas em áreas de risco médio de inundação. Esses moradores, além de poder optar por uma das três modalidades, ainda terão a oportunidade de continuar nas casas.

JANAINA DO CARMO

Redação Tribuna

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